Ocupações estudantis: um estudo psicopolítico sobre movimentos paulistas de 2015 e 2016

Data
2019
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Editor
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP)

Resumo

Este trabalho objetivou analisar o processo de práxis política de estudantes que participaram de ocupações escolares no estado de São Paulo em 2015 e 2016. As ocupações de 2015 se deram em oposição à proposta de reorganização escolar elaborada pelo governo estadual. O movimento nacional de 2016 possuía, como principais reivindicações, a rejeição à PEC 241 e à Reforma do Ensino Médio (MP 746). As ocupações se caracterizaram por formas horizontais e autônomas de organização. Para gerir o espaço, os estudantes organizavam-se em comissões: comunicação, limpeza, alimentação, segurança, etc. As decisões eram tomadas coletivamente e não havia lideranças instituídas. A vinculação entre atividades de formação, culturais e artísticas foi uma forte marca do movimento. Os participantes da pesquisa são das cidades de São Paulo (SP), Ribeirão Preto (SP), Barretos (SP) e Catanduva (SP). O corpus empírico foi construído junto a dezenove (19) jovens que participaram de ocupações estudantis, além de quatro (4) docentes e um (1) funcionário técnico administrativo do IF Catanduva. A ocupação de Catanduva (SP) compõe a maior parte do corpus. Os instrumentos utilizados na produção do material empírico foram entrevistas semiestruturadas, grupos focais e observações participantes. A análise do corpus teve a práxis política como categoria estruturante. Tal categoria é entendida a partir da articulação entre a psicologia histórico-cultural e o pensamento de Gramsci. A articulação entre os referenciais gramsciano e vigotskiano busca abordar a práxis política de maneira complexa, considerando de forma não dicotômica suas esferas macro e microssociais. A análise do corpus é organizada a partir de três dimensões indissociáveis: práxis política; potência de agir; aprendizado e desenvolvimento. A práxis política dos alunos tocou níveis macrossociais no que se referia a algumas de suas reivindicações finais, mas também atuou em níveis microssociais. A partir das ocupações, as rígidas hierarquias entre professores e estudantes foram questionadas; as relações de poder dentro das instituições se transformaram. São relatados vários desgastes físicos e mentais sofridos pelos estudantes durante os movimentos. Desde noites mal dormidas até violências – simbólicas principalmente, mas também físicas – perpetradas por opositores - colegas, professores, gestores, pais e policiais -, que geraram ataques à potência de agir e à saúde dos jovens. No entanto, mesmo diante de tais situações, foi possível criar espaços nos quais bons encontros eram produzidos: conversas, oficinas, brincadeiras, confraternizações, vitórias políticas, etc. Os estudantes organizaram diversos momentos de formação nas escolas ocupadas: debates, palestras, oficinas entre outras. Os jovens contam que as relações nas quais estavam imersos durante as ocupações foram fundamentais para mudanças em suas formas de pensar, sentir e agir. Aparentemente, mais do que o ensino de determinado conteúdo formal, as relações concretas propiciadas pelos movimentos possibilitaram o desenvolvimento desses estudantes em esferas significativas de suas vidas. As ocupações criaram ambientes – físicos e sociais - que favoreceram o aumento de potência de agir, democratização psicossocial e práxis política multitudinária. Um ambiente com tais características será denominado como campo de potência‖. Pretende-se que tal conceito passa ser útil em análises e práticas psicopolíticas em contextos diversos.


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