A importância da atenção na relação professor-aluno no contexto tecnocientífico

Data
2012-11-23
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Universidade Estadual Paulista - UNESP

Resumo

A atenção faz parte de uma temática geralmente esquecida e não valorizada pela filosofia e por sua história, na medida em que ela mantém laços com os pressupostos fundamentais da filosofia moderna, e à medida que esta “maneira” de fazer filosofia, historicamente datada é adotada, como sendo “a” própria Filosofia, configurando uma agenda filosófica bastante restrita, que na ânsia de “certeza” e “clareza” é levada a ignorar um campo de temas fundamentais para a (auto) compreensão do humano e de maneiras outras de se produzir conhecimento sobre ele. É sabido que a filosofia, a partir da modernidade, buscou compreender a realidade por meio da exclusividade de um conhecimento racional, claro e distinto, “purificado” de sua vinculação com o mundo da vida. Fazendo desta, um objeto destacado e separado, face à consciência do sujeito que se reconhece como categoria ontológica, superior e independente do mundo, capaz de produzir a partir de si um conhecimento objetivo e seguro da realidade, radicalizando substancialmente o dualismo platônico, que doravante passam a ser tomados, sujeito (alma) e objeto (materialidade), como substâncias antagônicas e hierarquicamente diferentes. Com este cenário conceitual, a modernidade apostou em um mundo baseado no conhecimento científico, cujos excessos são experimentados cotidianamente na sociedade tecnocientífica, desvalorizando maneiras outras de abordar o fenômeno humano, e de modos outros de produção de conhecimento. Deste modo, a atenção, como um tema genuinamente filosófico, ganhou importância e foi recuperado por estudiosos da filosofia antiga que, numa espécie de “desvio” dos pressupostos modernos, perceberam que a filosofia, em sua plenitude, não poderia ser considerada apenas como uma produção/exposição de um sistema teórico, desligado da experiência que fazemos no mundo, mas, que ela deveria ser tomada como “modo de viver” que nos implica profundamente e que é praticado e exercitado, tendo como finalidade uma espécie de autotransformação, que possa nos tornar dignos do que nos acontece. O tema da atenção se insere como um tema de importância filosófica por meio deste registro, que busca não tanto informar, mas antes provocar um efeito de formação, ultrapassando o sentido epistemológico atribuído ao termo e delineando-se como um tema eminentemente ético, na medida em que implica uma atitude que procura uma sintonia e um procedimento mais adequado à situação. Como nova temática, que busca sua inserção no debate filosófico e pedagógico, carece de uma sistematização, o que buscaremos com este trabalho, na tentativa de problematizarmos a atitude atenta ou se quisermos, a prática ou o exercício da atenção e sua importância ética na relação professor-aluno. Para pensarmos o tema da atenção como uma prática e/ou um exercício filosófico, em seu “desvio” dos pressupostos modernos, recorreremos aos trabalhos de Pierre Hadot, que recupera da antiguidade grega e helenística a importância da atenção nos 'exercícios espirituais'. Para tematizarmos a atenção na contemporaneidade, face aos limites de uma visão tecnocientífica de homem e de mundo, recorreu a Josep Maria Esquirol, autor que estabelece uma relação umbilical entre o tema da atenção e do respeito. Para nós, isto se apresenta como uma possibilidade de fazermos frente às imposições da sociedade, da indiferença e do consumo que impregnam as relações humanas contemporâneas, especialmente as constituídas no interior das salas de aulas.


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