Botânica modernista e a natureza do Brasil redescoberto
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Resumo
O presente estudo discute a centralidade da vegetação e de categorias a ela relacionadas – como paisagem e natureza – na produção literária, artística e paisagística do modernismo paulista das décadas de 1920 e 30. A partir de obras de importantes artistas e intelectuais do período, a exemplo de Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Raul Bopp, Blaise Cendrars, Tarsila do Amaral, Anita Malfatti, Lasar Segall, Mina Klabin Warchavchik e Flávio de Carvalho, investiga como as plantas, enquanto verdadeiros “símbolos vegetais”, apontam para novas relações entre natureza e cultura; ajudam, ainda, a desvelar as contradições de um processo de modernização marcado por conflitos e desigualdades, e contribuem para a libertação de uma série de recalques históricos, sociais e étnicos presentes na sociedade brasileira. Com base em revisões bibliográficas e em um extensivo levantamento “botânico-pictórico” – realizado em gravuras, pinturas, desenhos, poemas, romances, fotografias e projetos, nos quais aparecem dezenas de plantas –, fez-se uma reflexão sobre os significados e as formas de representação de cinco espécies ou famílias botânicas, correspondendo aos cinco capítulos desta tese. Assim, o trabalho faz o seguinte movimento: do café (Coffea arabica) à vitória-régia (Victoria amazonica), passando pelas palmeiras (Arecaceae), bananeiras (Musa sp) e cactos (Cactaceae). Nesse movimento, a vegetação é lida, vista e sentida ora sob a perspectiva da exploração colonial e da dependência econômica e cultural, ora sob uma perspectiva emancipatória; ora relacionada à “civilização à europeia”, ora à “civilização tropical”; ora à cidade modernizada, ora à floresta imaginada virgem; ora à concupiscência masculina, ora à resistência feminina; ora reportando-se aos tempos presentes, ora a tempos ancestrais, entremeados de expectativas de futuro.