A formação do leitor literário, aluno do ensino médio, ainda é um grande desafio nos contextos de ensino. Sendo assim, cremos que apreender as representações da literatura das quais os jovens se apropriam seja um passo importante a ser dado na busca por mudanças no ensino da literatura. Por isso, entendemos que a análise da representação da literatura disseminada no contexto escolar requer sua compreensão, antes, como prática cultural que, constituída dentro de uma estrutura social ampla, também a representa. Daí a relevância de reconhecermos a relação da literatura com as novas formas de interação social. Orientados nesse sentido, definimos como objetivo central deste trabalho de pesquisa a análise das representações de literatura emersas do ambiente virtual, por meio da investigação de comunidades virtuais de leitores, e do ambiente escolar. Nossa hipótese de pesquisa considera o surgimento de novos modelos de letramento literário no meio digital, apesar de ainda predominar nas comunidades virtuais de leitores investigadas a representação de literatura já existente na escola. Ou seja, cremos que a inserção do discurso literário nos dois ambientes se efetive a partir de algumas práticas fundantes parecidas, o que leva à reapropriação de modelos pré-existentes da representação de literatura. No ambiente digital, a investigação de duas comunidades virtuais de leitores, Skoob e Booktube, permitiu a identificação de práticas igualmente constituídas a partir de uma determinada representação da literatura. A leitura de uma obra - Vidas secas, de Graciliano Ramos - representativa do cânone brasileiro, divulgada por uma booktuber e por membros da comunidade Skoob, também nos auxiliou nesta investigação. Por meio do exame das orientações oficiais da educação referentes ao ensino da literatura das últimas décadas buscamos captar os fundamentos norteadores da prática do professor no ensino médio, os quais, consequentemente, levam à apropriação de um modelo da representação de literatura pelo aluno. Em relação ao percurso metodológico, definimos esta pesquisa como qualitativa e de cunho antropológico, ancorada na netnografia e na análise documental. Quanto ao aporte teórico, adotamos uma perspectiva que contempla a tradição do valor da literatura como formação, segundo Candido (2011), fundamentando nossas reflexões na definição de literatura a partir de Barthes (2009, 2012), na teoria das representações sociais de Chartier (1991, 1988), nas noções de distinção social propostas por Bourdieu (2002, 2007, 2011), nos conceitos de letramento metamidiático definidos por Lemke (2010) e de cultura participativa e convergente apresentados por Jenkins (2015). Os resultados desta investigação apontam para mudanças bastante significativas na representação dos sujeitos envolvidos nesse processo, o que pode suscitar reflexões e novos encaminhamentos para uma mudança nos modos de se relacionar com a literatura no ambiente escolar. Cremos que a relação estabelecida entre as formas específicas de interação dos leitores e esses novos suportes requer atenção, uma vez que pode revelar procedimentos capazes de promover uma relação mais profícua entre leitor e texto literário, um grande desafio nos atuais contextos tradicionais de ensino.