"O infinito amanhecer da eternidade" ou "condenados à vida escura" : valores cristãos na literatura vampiresca para jovens adultos
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Resumo
Esta pesquisa tem como objetivo analisar as imagens do vampiro, enquanto personagem mítica e literária, em produções narrativas voltadas para jovens adultos na primeira década do século XXI, nos Estados Unidos e no Brasil, a partir das séries Os sete (1999-2008), de André Vianco e Twilight [Crepúsculo] (2005-2008), de Stephenie Meyer. Partindo da abordagem do mito e sua relação com crenças e rituais associados à morte, bem como do trânsito da figura do vampiro da cultura oral europeia para os textos escritos e literários, nos séculos XVIII e XIX, constata-se uma ambiguidade entre características monstruosas e humanizadas na construção do vampiro ficcional, cuja civilização e humanização intensificam-se no cinema e na literatura do século XX. Levando em conta tais variações dessa personagem nos séculos XIX e XX, e situando Os sete e Crepúsculo no contexto da produção cultural e literária para jovens adultos no final do século XX e início do século XXI, observa-se, por um lado, a manutenção de características tradicionais do mito do vampiro (que o associam à morte e a uma origem e atributos demoníacos); por outro, sua “domesticação”, isto é, sua integração ao modo de vida humano (pela constituição de laços familiares) e a seus imperativos morais, relacionados a uma ótica cristã e mórmon que permeia a saga de Meyer. Além das representações do Diabo cristão presentes na série Os sete, apresenta-se, nesta e em Crepúsculo, a descrição de alguns vampiros a partir de atributos divinos cristãos como o amor incondicional, a compaixão, a perfeição, a onipotência. Por fim, constata-se, na série de Vianco, a influência de imagens apocalípticas na descrição de batalhas entre o bem e o mal, representados tanto em entidades religiosas, como anjos e demônios, quanto em sua associação à luta contra o crime organizado e a violência urbana. Conclui-se, pela análise de todos esses elementos, que a grande aceitação do público e o sucesso comercial dessas obras relacionam-se não apenas a fórmulas narrativas de fácil consumo, mas à familiaridade dos leitores com o sistema de crenças que as perpassa, bastante difundido e arraigado nas culturas estadunidense e brasileira, fortemente influenciadas pelo cristianismo.