O problema do conhecimento e a dissolução do conceito de maldade em Heinrich Von Kleist.
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Resumo
Recentes pesquisas sobre a obra literária de Heinrich von Kleist (1777-1811) retomaram a famosa “crise-kantiana” do autor como fator de grande relevância no estudo de seu universo literário. Tim Mehigan, por exemplo, em seu livro Heinrich von Kleist: writing after Kant (2011) nos apresenta uma nova faceta de interpretação desta crise ao considerá-la como o ponto de partida para o desenvolvimento de Kleist como um grande colaborador da filosofia póskantiana, pois suas cartas (a partir de 1800), ensaios e obras literárias refletem o embate entre a teoria do conhecimento de Kant e os limites a que a autoconsciência pode chegar na apreensão dos dados da realidade empírica. O trabalho de Kleist, neste ponto de vista, pode ser entendido como “pós-kantiano” na medida em que vai além da escola kantiana e discute novas questões culturais, estéticas e filosóficas abertas pelo próprio Kant. Essas conclusões nos permitem avançar a discussão empreendida por estes pesquisadores para a abordagem de uma temática frequente nas obras de Kleist: a quebra de limites entre os conceitos de maldade (Das Böse) e bondade (Das Gute) desenvolvidos durante a Aufklärung. Essa quebra nos parece estar fortemente associada a uma subversão do conceito de realidade extraído por Kleist da noção kantiana de apreensão da realidade pela razão e ao ceticismo muito característico da filosofia de Hume. Assim, nesta pesquisa, procuraremos demonstrar em que consiste essa quebra de limites do bem e do mal e como a composição de uma realidade pautada no engano integra o universo literário kleistiano. Iniciaremos nosso trabalho com a exposição do projeto juvenil de Kleist, que busca a felicidade por meio da aquisição de conhecimento, e compararemos este “Lebensplan” à filosofia de Rousseau, mais especificamente aos parâmetros pedagógicos que podemos depreender da obra Emílio (1762). Em seguida, por meio da exposição da “crisekantiana”, partiremos da hipótese de que a realidade empírica em Kleist dilui os limites entre bem e mal na composição de seus personagens, resultando em ações de extrema violência que são ressignificadas pela motivação ou pelo efeito produzido. Para que esta pesquisa seja efetiva, selecionamos para a nossa análise das obras literárias de Kleist os ensaios Über die allmähliche Verfertigung der Gedanken beim Reden (1805) e Über das Marionettentheater (1810), a comédia Der zerbrochne Krug (1811), os dramas Prinz Friedrich von Homburg (1811) e Die Hermannsschlacht (1808), a tragédia Penthesilea (1807), e os contos Der Findling e Michael Kohlhaas. Além disso, trabalharemos com as cartas deixadas pelo autor, os seus diversos contos, dramas, ensaios, epigramas e anedotas.