Ensino da matemática e a Pedagogia de Paulo Freire: olhares oblíquos por uma educação matemática emancipadora

Data
2023-03-21
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USP

Resumo

Mesmo diante do reconhecimento mundial de Paulo Freire na academia e nas lutas dos movimentos populares, ainda existe uma defasagem na contribuição das suas ideias no campo da educação matemática. Assim, esta pesquisa de cunho teórico articula algumas ideias fundamentais presentes nos escritos de Freire, principalmente na obra "Pedagogia do oprimido", com conceitos da educação matemática: a concepção do ser humano como entidade inacabada, em busca de ser mais; a relação dialética entre teoria e prática (práxis); as dimensões dialógicas e fundamentalmente democráticas do processo educativo; a crítica à educação bancária; a dinâmica e o significado do tema gerador; as dimensões interligadas à figura do professor; a interconexão entre os processos educativo e revolucionário; e a análise dialética dos processos e relações no mundo e, em particular, nas práticas educativas. A presente reflexão busca compreender, a partir de um olhar oblíquo que ilumine lugares periféricos e não convencionais, as relações entre a epistemologia matemática e a dinâmica professor-aluno, utilizando elementos da filosofia, historiografia, sociologia (principalmente a crítica e a pragmática), psicologia e sociolinguística. Analisa-se a importância do frame e do mito na orientação do significado do discurso sobre a concepção da matemática e do papel dos alunos. Inspirado no humanismo engajado de Paulo Freire, propõe-se uma abordagem humanista e dialética da matemática como produção social, sujeita às contradições das sociedades que a produziram e difundem. Questiona-se a possibilidade de a matemática ser compreendida como uma experiência democrática, bem como o significado de analisá-la sob as categorias políticas de esquerda e direita. Neste contexto, defende-se a necessidade de promover uma dimensão democrática e dialogante no ensino da matemática, ecoando a importância da dimensão dialógica de Paulo Freire. A perspectiva da sociologia pragmática é utilizada para argumentar a relevância da fala do aluno (o ator em ação e/ou em situação crítica) na construção do ambiente da sala de aula e das próprias ideias matemáticas. Discute-se a dimensão violenta do ensino da matemática, tanto no âmbito simbólico quanto socioeconômico, e como tal violência relaciona-se à ideia de educação bancária. Estas questões são colocadas em constante disputa e em tensão dialética com as dimensões libertadoras da educação. A reflexão da sociolinguística é empregada para destacar a negação e o silenciamento da norma linguística popular falada por grupos oprimidos, em relação à norma culta da língua defendida e utilizada por opressores. Considera-se que a história da matemática é um recurso valioso, especialmente sob a perspectiva de Walter Benjamin, que convida a "escovar a contrapelo" a história devido às ações de silenciamento e espoliação perpetradas pelos opressores sobre os objetos matemáticos. A fim de articular os temas geradores com as atividades matemáticas, investiga-se a necessidade de encarar a matemática não somente como uma ferramenta para solucionar problemas, mas como uma dimensão do ser humano, em que o humano a (re)cria e a utiliza para discutir as grandes questões da vida. Por fim, estas ideias e perspectivas são articuladas em três situações concretas.


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